SOBRE O TRABALHO
PALAVRA AO INANIMADO: A “REVOLUÇÃO” DE OSMAR BENESON
Nas obras de Osmar Beneson assistimos à encenação de uma nova cosmogonia, não se trata mais, ou simplesmente, de formas, mas de entidades inusitadas; os objetos do real são antropomorfizados, as coisas se rebelam à estaticidade a que o homem, ou o Artífice, as condenou, assim vemos suas dimensões explodirem para além dos limites usuais: cadeiras pensantes de dois metros, para que nenhum humano possa sentar-se nelas e usá-las, finalmente livres e impondo sua forma, aquela que elas escolheram. Este é o traço mais surpreendente, ao meu ver, da obra de Beneson: uma nova ontologia lúdico-revolucionária, não só no aspecto projetual, mas também no cromático; nada ocupa, nessa nova ordem das coisas, o lugar que lhe foi dado, nem dimensão, nem cor, nem papel fixo. Toda a obra de Beneson, sua poética de criação, lembra-me A revolução dos bichos de George Orwell, aquela revolução incrível e cruel contra os humanos. Aqui são os objetos que recusam a desumanidade que o homem lhes atribuiu e buscam impor sua identidade, mas não através da destruição, do conflito, da duplicidade, mas por meio da convivência, do encontro do ponto em comum. De fato, ao observar suas obras, o espectador verá árvores e cadeiras que convivem no mesmo espaço, mas tornando-se cada uma parte da outra, as árvores parecendo mãos que se abrem ao outro e cadeiras, mesas, luminárias, objetos corriqueiros de nossas vidas, compartilham nosso diálogo; não tendo o dom da palavra, aproximam-se de nossa aparência num processo de identificação. A essência da arte é essa e Beneson a alcança: o homem-artista cria algo maior de si para libertá-lo dos limites pequenos de sua mente e de suas concepções, dá evasão às suas percepções contidas e não expressáveis somente com as palavras, escritas ou faladas. A arte de Beneson nos revela, ao mesmo tempo, o limite e o poder extraordinário de nosso pensamento. Do ponto de vista da estética, propriamente dita, o que chama a atenção do espectador é essa peculiar síntese, totalmente pessoal, entre o cartum, Miró e Botero. Na minha visão, a obra de Beneson se configura como totalmente latino-americana, tanto no aspecto antropofágico de ingestão e criação do Todo em uma nova realidade, quanto nas referências cromáticas e de estilo aos mestres da arte espanhola e sul-americana e, sobretudo, no espírito, na filosofia de vida tipicamente brasileira que humaniza e enxerga a alma até no inanimado.
Prof. Sergio Romanelli (UFSC-CNPq)
WORD TO THE INANIMATE: OSMAR BENESON’S REVOLUTION
In Osmar Beneson’s pieces we witness the portrayal of a new cosmology. It is no longer, or merely, the shapes, forms, but rather unexpected entities, real objects that are anthromophisized . Things revel against the stateness that men, or the Artist condemned them too. Therefore we see its dimensions exploding beyond the usual limits: thinking 6 foot chairs so that no human being can sit on them or use them. They are free at last imposing their shape, the one they chose. To my mind this is the most surprising trait in Beneson’s work: a new playful-revolutionary ontology, not only project wise, but also chromatically. In this new order of things nothing occupies the place, the color or the fixed role it was assigned. All Beneson’s work, his creation poetry reminds me of George Orwell’s Animal Farm, that incredible and cruel revolution against the humans. Here the objects refuse the inhumanity men assign to them and try to impose their own identity, but not through coexistence , by finding a common ground. Actually, observing his pieces the spectator will see trees and chairs coexisting in the same space, but one coming part of the other. Trees that look like hands that open toward others and chairs, tables, lamps, trivial objects in our lives sharing our dialogue. As they do not have the gift of identification. That is the essence of art and Beneson gets to it: the man-artist creates something bigger than himself from his small mental limitations and from his conceptions which cannot be expressed only whit written or spoken words. Beneson’s art reveals us at the same time the limit and the extraordinary porre o four thoughts. From an aesthetic point of view, what draws the spectator’s attention is this peculiar and totally personal synthesis of cartoon, Miró and Botero. In my opinion Beneson’s work is totally Latin American, both in the anthropophagic aspect of ingestion and creation the Whole into a new reality as well as in the chromatic references of style to the master of Spanish and South American art and above all, it is present in spirit and philosophy of a typically Brazilian life that humanizes and sees a soul even in the inanimate.
Prof. Sergio Romanelli (UFSC-CNPq)
